Em entrevista concedida ao jornal Tribuna do Norte deste domingo, o agora Senador Paulo Davim (PV), falou do susto que teve ao receber a notícia que assumirá o senado, ocupando a vaga deixada pelo agora Ministro Garibaldi Filho (PMDB), falou sobre política, saúde e da situação fiscal que se encontra o Estado, apontou prioridades e projetos que pretende defender agora como senador, vejam na íntegra a entrevista concedida ao jornal Tribuna do Norte.
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Foto: Emanuel Amaral |
Como foi receber a notícia de que deixaria de ser um suplente para iniciar o mandato de senador já no início do novo governo?
Ser suplente de um político como Garibaldi que tem um currículo tão rico e de tantos serviços prestados ao Estado e ao país, que foi deputado estadual quatro mandatos, que foi prefeito, senador, governador, presidente do Senado... evidentemente ele tem um currículo que o credencia a ser alçado para cargos maiores na República, como é o caso de ministro de Estado. Então na condição de suplente é óbvio que você sabe que a qualquer momento um currículo desse poderá ser considerado e o dono dele ser convidado. Mas eu confesso que em nenhum momento acreditava que isso viesse a acontecer nas primeiras horas do mandato dele. E eu estou muito satisfeito. Acho que o RN ganha em ter mais um ministro na sua história pelo que Garibaldi é e pelo que ele pode fazer. Eu vou me esforçar o máximo possível para desempenhar um bom papel no Senado.
O senhor disse que terá três bandeiras: a da Saúde, da Sustentabilidade e as do senador Garibaldi. Como pretende defendê-las na prática?
Eu entrei na macro-política, por assim dizer, através das minhas lutas em defesa da Saúde. Passei os dois mandatos na Assembleia Legislativa sendo essa luta o foco principal das minhas ações parlamentares. Pretendo conduzi-las para o Senado para continuar defendendo a Saúde, discutindo os problemas que na minha avaliação são cruciais. A questão do financiamento do SUS [Sistema Único de Saúde], da emenda 29, da profissionalização da Saúde, a questão da carreira SUS, a carreira médica, a questão da consolidação da implantação do SUS, enfim, essas questões bem próprias da Saúde. Mas também não posso deixar de lado as outras bandeiras, como por exemplo o desenvolvimento sustentável, que é a bandeira do meu partido; a defesa do fortalecimento do meu estado; e, evidentemente, sem perder do horizonte essa consonância com os trabalhos já desenvolvidos por Garibaldi, que é o titular. Então estarei sempre em consonância com as ações desenvolvidas por mim e as desenvolvidas pelo senador e agora ministro Garibaldi.
Como o senhor espera atuar em conjunto com os outros senadores do Estado? Já se sabe que um deles, o senador José Agripino, deverá ser um dos principais porta-vozes da oposição ao governo Dilma...
Eu acho que deve ser uma relação de respeito. Eu tenho uma profunda admiração pelo senador José Agripino. A postura dele é de coragem e ajuda a consolidar a democracia. O legislativo é a Casa dos debates, que se estabeleça lá o contraditório, que se discuta as ideias, os princípios, mas evidentemente que todas as discussões devem ser preservadas e primadas pelo respeito. Eu tenho certeza de que existe muitas coisas em comum para os três: primeiro o RN e o Brasil, o que for para isso os três estarão juntos. Ninguém quer o mal para o Brasil e para o RN. A gente pode até discordar de encaminhamentos e de posturas ou de formas de caminhar, mas o objetivo sempre é o mesmo. Eu não acredito que exista um parlamentar que não queira o melhor para o seu povo, então esse é o campo comum entre nós. E eu tenho certeza de que pela experiência do senador Agripino e Garibaldi, pela vivência política e talento dos dois. serão muito úteis para mim que sou um neófito nessa política. Eu tenho certeza de que vou aprender muito com eles e com todos.
O senhor deixou o PT após o escândalo do mensalão, fazendo fortes críticas ao partido. Como será a atuação no governo Dilma Rousseff?
O meu partido fez parte de uma aliança na qual eu fui eleito, com o PMDB, PR e PV e essa aliança apoiou Dilma. A presidente do meu partido e o meu partido no RN e no Nordeste apoiaram Dilma. O senador Garibaldi, do qual eu sou suplente, é ministro do governo Dilma. Eu votei em Dilma, então evidentemente que eu seguindo essa coerência estarei na base do governo, até porque sou um homem partidário.
O que esperar do novo governo?
Que sejam implementadas várias reformas necessárias nesse país. Espero que haja uma verdadeira transformação na Saúde no Brasil, que é um ponto crítico. Eu acho que a Saúde e a Segurança públicas nesse país são os dois pontos cruciais. O governo Dilma precisa urgentemente jogar todos os seus olhares para cima da Saúde e da Segurança. Não se admite mais o Brasil, um país pujante, reconhecido no mundo inteiro, com a Saúde de terceiro mundo. Não existe país soberano com a Saúde tão precária como a que o Brasil tem.
O senhor acredita, honestamente, que a emenda 29 que se arrasta há tanto tempo será regulamentada?
Ela precisa ser regulamentada. Eu torço e minha voz vai participar do coro de milhares de pessoas que pensam na Saúde do país. Essa emenda não só redistribui obrigações financeiras entre união, estados e municípios, mas também trata da atividade fim e com isso só recursos da Saúde poderão ser gastos. Não pode continuar do jeito que está hoje. Eu defendo mais do que isso, que seja discutido essa coexistência entre saúde pública e privada. Precisa discutir bem isso. Uma não pode parasitar a outra. Precisamos defender uma carreira para os profissionais de Saúde do Brasil. Porque tudo que é prioridade vira carreira de estado. É assim na carreira jurídica, na Receita Federal, na Polícia Federal, enfim, em tudo. Agora mesmo que a violência urbana está crescendo e assustando todos aí já começou a se pensar na equiparação salarial das polícias do Brasil com a do Distrito Federal, através das PEC 300. Então eu acho que a Saúde precisa ser prioridade para o governo e eu estarei lá para defender isso.
Como pretende atuar no Senado, uma instituição que ainda busca o respeito e a credibilidade?
Eu sinceramente não posso dar opinião agora porque tudo é muito distante para mim. Eu não sei o tipo de prática, nunca fui senador. Fui ao Congresso apenas duas vezes como turista. Então eu não conheço como funciona o Congresso e sobretudo o Senado. Mas evidentemente que as práticas que eu sempre fiz questão de conservá-las e praticar no RN serão as mesmas do Senado. Eu não tenho porque mudar comportamento, pensamento, a concepção de vida e da prática política. Eu permanecerei pensando dessa mesma forma e agindo como sempre agi até hoje.
“Há pouca qualificação dos gestores”
Seus pacientes já devem estar pensando que perderam o médico, pelo menos por um tempo. Como vai ser conciliar essas duas profissões?
Eu ainda não pensei direito. Não equacionei isso. Mas eu disse isso a pouco tempo que é uma das coisas que eu tenho certeza é que não vivo sem a medicina. Tirar a medicina de mim é tirar um pedaço de mim. E e eu vou ter que equacionar muito direitinho essa questão para que eu continue exercendo a medicina, porque sem a medicina seguramente eu não serei feliz.
Há chances de clinicar em Brasília?
Eu não pensei ainda como. Não sei ainda. Vou pensar com muita calma e responsabilidade. Eu tenho a responsabilidade que me foi dada pelo povo do RN e eu tenho que exercer com muita dedicação esse mandato, mas também eu tenho uma responsabilidade profissional e pessoal com a medicina que vai me acompanhar pelo resto da minha vida. E eu faço isso muito prazerosamente. Eu tenho uma legião de pacientes que de ontem para hoje (quarta e quinta-feira) eu tenho recebido algumas centenas de ligações me questionando: “e agora?”. E aí eu digo, fiquem calmos, que eu não vou abandonar ninguém. Não sei como, mas nem que seja trabalhando de madrugada e quando estiver aqui, mas eu não vou deixar de atender meus pacientes. São anos e anos de atendimento, de amizades, os pacientes antigos acabam virando amigos. E eu não quero abandoná-los. Não sei como equacionar esse problema, mas seguramente eu conseguirei.
O senhor chegou a dizer que não seria mais candidato. O senhor não procura a política, mas a política o procura?
Algumas vezes na minha vida eu fui atropelado pelo futuro. Eu programo o futuro de um jeito e sou atropelado. Então eu acho que são os designos de Deus e quanto aos designos de Deus não podemos fazer nada, a gente tem que ser obediente. Se isso está acontecendo é porque eu deverei executar alguma coisa. Então vamos à luta. Eu estou preparado para assumir o desafio.
Como membro da equipe de transição da governadora eleita Rosalba Ciarlini, qual a análise que faz dos relatórios que viu?
Eu acho que o RN é pobre e que portanto tem poucos recursos para serem aplicados em investimento e sobretudo na infra-estrutura do Estado. E esses poucos recursos são mal gerenciados e mal gastos. É isso que me preocupa. Nós temos poucos recursos e não sabemos gastar bem. Então eu acho que precisa se profissionalizar a gestão pública. Ou se profissionaliza ou nós teremos uma imensa quantidade de municípios quebrados e falidos. Temos que colocar as pessoas certas nos lugares certos. A gente não pode misturar política com gestão. A indicação política eu até aceito desde que o indicado tenha o perfil necessário para o cargo que vai ocupar. Eu nunca vi ninguém colocar no Banco Central pessoas que não tenham um bom perfil para o cargo e não deixa de ser uma indicação política. Então eu acho que a mesma preocupação que tem no Banco Central deve ter para todos os cargos públicos sobretudo os mais estratégicos.
O que causou mais alarde ao grupo?
As dívidas. Elas são alarmantes. E isso é resultado da má gestão, da banalização da coisa pública, da pouca qualificação dos gestores, da falta de compromisso com o serviço público, da pouca sensibilidade com a população em geral, sobretudo a carente que precisa da máquina pública para viver bem. Então essa falta de sensibilidade na gestão e esse empirismo e amadorismo estão sendo identificados por mim como as marcas principais que estou enxergando nos relatórios.
E os números?
Eu prefiro deixar que a coordenação da transição dê números finais, mas eu diria que na saúde, por exemplo, a dívida é bem acima de 100 milhões, sem se contabilizar particularidades, como por exemplo plantões eventuais que estão atrasados desde agosto, o terço de férias que é lei e não está sendo pago desde outubro, a questão da progressão na carreira de cargos e salários, que está atrasado em 2008 e 2010. O terço de férias inclusive não é só na Saúde mas para todos os servidores, enfim, tudo isso não está sendo contabilizado nos números que nós recebemos.
Preocupa um Estado com tantas dívidas, a máquina substancialmente inchada, e ainda querer contrair mais dívidas para uma Copa do Mundo?
Essa questão da Copa do Mundo eu não estou participando da discussão e não sei o que foi debatido de forma objetiva na reunião do Rio de Janeiro, não sei que encaminhamento está sendo dado, mas acredito que será uma PPP [Parceria Público-Privada]. Se for assim, e for bem conduzida, eu acho que o retorno para Natal e para o Estado é bem maior que os eventuais e possíveis investimentos que venham a acontecer por parte do Poder Público. O que vai acontecer em termos de aceleração do saneamento básico, da geração de emprego, do incremento do turismo, da mobilidade urbana, do Aeroporto de São Gonçalo, tudo isso nós temos que contabilizar como ganhos porque esses ganhos virão, pelo menos de maneira mais rápida, se Natal for sede da Copa.
*Entrevista concedida ao jornal Tribuna do Norte
*Site: www.tribunadonorte.com.br
Ser suplente de um político como Garibaldi que tem um currículo tão rico e de tantos serviços prestados ao Estado e ao país, que foi deputado estadual quatro mandatos, que foi prefeito, senador, governador, presidente do Senado... evidentemente ele tem um currículo que o credencia a ser alçado para cargos maiores na República, como é o caso de ministro de Estado. Então na condição de suplente é óbvio que você sabe que a qualquer momento um currículo desse poderá ser considerado e o dono dele ser convidado. Mas eu confesso que em nenhum momento acreditava que isso viesse a acontecer nas primeiras horas do mandato dele. E eu estou muito satisfeito. Acho que o RN ganha em ter mais um ministro na sua história pelo que Garibaldi é e pelo que ele pode fazer. Eu vou me esforçar o máximo possível para desempenhar um bom papel no Senado.
O senhor disse que terá três bandeiras: a da Saúde, da Sustentabilidade e as do senador Garibaldi. Como pretende defendê-las na prática?
Eu entrei na macro-política, por assim dizer, através das minhas lutas em defesa da Saúde. Passei os dois mandatos na Assembleia Legislativa sendo essa luta o foco principal das minhas ações parlamentares. Pretendo conduzi-las para o Senado para continuar defendendo a Saúde, discutindo os problemas que na minha avaliação são cruciais. A questão do financiamento do SUS [Sistema Único de Saúde], da emenda 29, da profissionalização da Saúde, a questão da carreira SUS, a carreira médica, a questão da consolidação da implantação do SUS, enfim, essas questões bem próprias da Saúde. Mas também não posso deixar de lado as outras bandeiras, como por exemplo o desenvolvimento sustentável, que é a bandeira do meu partido; a defesa do fortalecimento do meu estado; e, evidentemente, sem perder do horizonte essa consonância com os trabalhos já desenvolvidos por Garibaldi, que é o titular. Então estarei sempre em consonância com as ações desenvolvidas por mim e as desenvolvidas pelo senador e agora ministro Garibaldi.
Como o senhor espera atuar em conjunto com os outros senadores do Estado? Já se sabe que um deles, o senador José Agripino, deverá ser um dos principais porta-vozes da oposição ao governo Dilma...
Eu acho que deve ser uma relação de respeito. Eu tenho uma profunda admiração pelo senador José Agripino. A postura dele é de coragem e ajuda a consolidar a democracia. O legislativo é a Casa dos debates, que se estabeleça lá o contraditório, que se discuta as ideias, os princípios, mas evidentemente que todas as discussões devem ser preservadas e primadas pelo respeito. Eu tenho certeza de que existe muitas coisas em comum para os três: primeiro o RN e o Brasil, o que for para isso os três estarão juntos. Ninguém quer o mal para o Brasil e para o RN. A gente pode até discordar de encaminhamentos e de posturas ou de formas de caminhar, mas o objetivo sempre é o mesmo. Eu não acredito que exista um parlamentar que não queira o melhor para o seu povo, então esse é o campo comum entre nós. E eu tenho certeza de que pela experiência do senador Agripino e Garibaldi, pela vivência política e talento dos dois. serão muito úteis para mim que sou um neófito nessa política. Eu tenho certeza de que vou aprender muito com eles e com todos.
O senhor deixou o PT após o escândalo do mensalão, fazendo fortes críticas ao partido. Como será a atuação no governo Dilma Rousseff?
O meu partido fez parte de uma aliança na qual eu fui eleito, com o PMDB, PR e PV e essa aliança apoiou Dilma. A presidente do meu partido e o meu partido no RN e no Nordeste apoiaram Dilma. O senador Garibaldi, do qual eu sou suplente, é ministro do governo Dilma. Eu votei em Dilma, então evidentemente que eu seguindo essa coerência estarei na base do governo, até porque sou um homem partidário.
O que esperar do novo governo?
Que sejam implementadas várias reformas necessárias nesse país. Espero que haja uma verdadeira transformação na Saúde no Brasil, que é um ponto crítico. Eu acho que a Saúde e a Segurança públicas nesse país são os dois pontos cruciais. O governo Dilma precisa urgentemente jogar todos os seus olhares para cima da Saúde e da Segurança. Não se admite mais o Brasil, um país pujante, reconhecido no mundo inteiro, com a Saúde de terceiro mundo. Não existe país soberano com a Saúde tão precária como a que o Brasil tem.
O senhor acredita, honestamente, que a emenda 29 que se arrasta há tanto tempo será regulamentada?
Ela precisa ser regulamentada. Eu torço e minha voz vai participar do coro de milhares de pessoas que pensam na Saúde do país. Essa emenda não só redistribui obrigações financeiras entre união, estados e municípios, mas também trata da atividade fim e com isso só recursos da Saúde poderão ser gastos. Não pode continuar do jeito que está hoje. Eu defendo mais do que isso, que seja discutido essa coexistência entre saúde pública e privada. Precisa discutir bem isso. Uma não pode parasitar a outra. Precisamos defender uma carreira para os profissionais de Saúde do Brasil. Porque tudo que é prioridade vira carreira de estado. É assim na carreira jurídica, na Receita Federal, na Polícia Federal, enfim, em tudo. Agora mesmo que a violência urbana está crescendo e assustando todos aí já começou a se pensar na equiparação salarial das polícias do Brasil com a do Distrito Federal, através das PEC 300. Então eu acho que a Saúde precisa ser prioridade para o governo e eu estarei lá para defender isso.
Como pretende atuar no Senado, uma instituição que ainda busca o respeito e a credibilidade?
Eu sinceramente não posso dar opinião agora porque tudo é muito distante para mim. Eu não sei o tipo de prática, nunca fui senador. Fui ao Congresso apenas duas vezes como turista. Então eu não conheço como funciona o Congresso e sobretudo o Senado. Mas evidentemente que as práticas que eu sempre fiz questão de conservá-las e praticar no RN serão as mesmas do Senado. Eu não tenho porque mudar comportamento, pensamento, a concepção de vida e da prática política. Eu permanecerei pensando dessa mesma forma e agindo como sempre agi até hoje.
“Há pouca qualificação dos gestores”
Seus pacientes já devem estar pensando que perderam o médico, pelo menos por um tempo. Como vai ser conciliar essas duas profissões?
Eu ainda não pensei direito. Não equacionei isso. Mas eu disse isso a pouco tempo que é uma das coisas que eu tenho certeza é que não vivo sem a medicina. Tirar a medicina de mim é tirar um pedaço de mim. E e eu vou ter que equacionar muito direitinho essa questão para que eu continue exercendo a medicina, porque sem a medicina seguramente eu não serei feliz.
Há chances de clinicar em Brasília?
Eu não pensei ainda como. Não sei ainda. Vou pensar com muita calma e responsabilidade. Eu tenho a responsabilidade que me foi dada pelo povo do RN e eu tenho que exercer com muita dedicação esse mandato, mas também eu tenho uma responsabilidade profissional e pessoal com a medicina que vai me acompanhar pelo resto da minha vida. E eu faço isso muito prazerosamente. Eu tenho uma legião de pacientes que de ontem para hoje (quarta e quinta-feira) eu tenho recebido algumas centenas de ligações me questionando: “e agora?”. E aí eu digo, fiquem calmos, que eu não vou abandonar ninguém. Não sei como, mas nem que seja trabalhando de madrugada e quando estiver aqui, mas eu não vou deixar de atender meus pacientes. São anos e anos de atendimento, de amizades, os pacientes antigos acabam virando amigos. E eu não quero abandoná-los. Não sei como equacionar esse problema, mas seguramente eu conseguirei.
O senhor chegou a dizer que não seria mais candidato. O senhor não procura a política, mas a política o procura?
Algumas vezes na minha vida eu fui atropelado pelo futuro. Eu programo o futuro de um jeito e sou atropelado. Então eu acho que são os designos de Deus e quanto aos designos de Deus não podemos fazer nada, a gente tem que ser obediente. Se isso está acontecendo é porque eu deverei executar alguma coisa. Então vamos à luta. Eu estou preparado para assumir o desafio.
Como membro da equipe de transição da governadora eleita Rosalba Ciarlini, qual a análise que faz dos relatórios que viu?
Eu acho que o RN é pobre e que portanto tem poucos recursos para serem aplicados em investimento e sobretudo na infra-estrutura do Estado. E esses poucos recursos são mal gerenciados e mal gastos. É isso que me preocupa. Nós temos poucos recursos e não sabemos gastar bem. Então eu acho que precisa se profissionalizar a gestão pública. Ou se profissionaliza ou nós teremos uma imensa quantidade de municípios quebrados e falidos. Temos que colocar as pessoas certas nos lugares certos. A gente não pode misturar política com gestão. A indicação política eu até aceito desde que o indicado tenha o perfil necessário para o cargo que vai ocupar. Eu nunca vi ninguém colocar no Banco Central pessoas que não tenham um bom perfil para o cargo e não deixa de ser uma indicação política. Então eu acho que a mesma preocupação que tem no Banco Central deve ter para todos os cargos públicos sobretudo os mais estratégicos.
O que causou mais alarde ao grupo?
As dívidas. Elas são alarmantes. E isso é resultado da má gestão, da banalização da coisa pública, da pouca qualificação dos gestores, da falta de compromisso com o serviço público, da pouca sensibilidade com a população em geral, sobretudo a carente que precisa da máquina pública para viver bem. Então essa falta de sensibilidade na gestão e esse empirismo e amadorismo estão sendo identificados por mim como as marcas principais que estou enxergando nos relatórios.
E os números?
Eu prefiro deixar que a coordenação da transição dê números finais, mas eu diria que na saúde, por exemplo, a dívida é bem acima de 100 milhões, sem se contabilizar particularidades, como por exemplo plantões eventuais que estão atrasados desde agosto, o terço de férias que é lei e não está sendo pago desde outubro, a questão da progressão na carreira de cargos e salários, que está atrasado em 2008 e 2010. O terço de férias inclusive não é só na Saúde mas para todos os servidores, enfim, tudo isso não está sendo contabilizado nos números que nós recebemos.
Preocupa um Estado com tantas dívidas, a máquina substancialmente inchada, e ainda querer contrair mais dívidas para uma Copa do Mundo?
Essa questão da Copa do Mundo eu não estou participando da discussão e não sei o que foi debatido de forma objetiva na reunião do Rio de Janeiro, não sei que encaminhamento está sendo dado, mas acredito que será uma PPP [Parceria Público-Privada]. Se for assim, e for bem conduzida, eu acho que o retorno para Natal e para o Estado é bem maior que os eventuais e possíveis investimentos que venham a acontecer por parte do Poder Público. O que vai acontecer em termos de aceleração do saneamento básico, da geração de emprego, do incremento do turismo, da mobilidade urbana, do Aeroporto de São Gonçalo, tudo isso nós temos que contabilizar como ganhos porque esses ganhos virão, pelo menos de maneira mais rápida, se Natal for sede da Copa.
*Entrevista concedida ao jornal Tribuna do Norte
*Site: www.tribunadonorte.com.br
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